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29/08/16 | Transferência de Tecnologia

Sonhos e tecnologias para o Semiárido



O uso sustentável da água é uma preocupação do analista da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) Luciano Cordoval de Barros desde o tempo em que cursou Engenharia Agronômica. As disciplinas que mais lhe chamavam atenção eram ecologia, hidráulica, topografia e desenho. Hoje, ele lidera o projeto Disseminação das Tecnologias Sociais: Lago de Múltiplo Uso e Barraginhas. Mas, para chegar a esse ponto, ele trilhou um longo caminho. Após a graduação, em 1973, na Universidade Federal de Lavras (UFLA), especializou-se em Manejo de Irrigação no Centro de Capacitación en Irrigación y Drenaje Benito Juázes, no México, em 1974, e concluiu a especialização em Irrigação e Drenagem, no Centro de Treinamento do Kibutz Mashav Shefayim, em Israel, em 1976. Nesses dois países, recebeu treinamentos sobre a convivência com os climas semiárido e árido. "No México, conheci um termo que não conhecia no Brasil: ‘viabilidade social do projeto'. E, em Israel, comecei a incorporar os termos sociais: solidariedade e sistemas de irrigação racionais e econômicos, tanto em água como em energia. E isso me permeou (acompanhou) o resto da vida", declara Cordoval.
O analista conta que, antes de ir para Israel, já havia convivido dois anos com a realidade da região do Semiárido mineiro. Após três meses em Israel, retornou para Janaúba, no norte de Minas Gerais, onde ficou por mais sete anos. "Neste período, fui ‘picado pela mosca' do Semiárido", brinca. "Durante cinco anos, trabalhei em um convênio da Fundação Rural Mineira (Ruralminas) e da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), na construção dos canais do Projeto Gorutuba. E nos últimos quatro anos de Semiárido, trabalhei na empresa Colonial Agropecuária, do grupo Andrade Gutierrez Alimentos. Nesse momento, em 1982, no norte de Minas, nasceu a primeira barraginha", lembra Cordoval.
Em 1983, o engenheiro-agrônomo começou a trabalhar na Embrapa Milho e Sorgo, onde teve a oportunidade de desenvolver e colocar em prática planos e anseios para amenizar os problemas do Semiárido.
Hoje, o Projeto Barraginhas virou um pacote que inclui cinco tecnologias. O carro-chefe é a barraginha, que tem a função de conservar o solo e produzir a água para sustentar as outras tecnologias, que são os lagos criatórios de peixes, os kits irriga-hortas, as miniestufas e, recentemente, a fossa séptica biodigestora, sendo essa última desenvolvida pela Embrapa Instrumentação, de São Carlos. "Tudo isso, visando amenizar a pobreza, a crise hídrica e colocar alimento na mesa das famílias carentes: peixes e hortaliças", afirma Cordoval.
A internet permitiu criar o blog "Projeto Barraginhas". "Em oito anos, este blog já possui 970 álbuns, que são relatórios das atividades do projeto: reuniões mobilizadoras nas comunidades, treinamentos, dias de campo (técnicos e festivos). O conteúdo do blog é disponibilizado nas redes sociais e está disponível nas buscas com dez palavras-chave. E isso gera uma interação nacional e internacional. Eu me acostumei e sou viciado em compartilhar conhecimento e ter feedback pela internet. É uma boa adrenalina. Fico motivado e por isso estou na Embrapa há 33 anos", comenta Cordoval.
Luciano Cordoval já reúne condições para se aposentar, mas continua na Embrapa. "Porque aqui é a minha segunda casa. Me sinto bem na minha sala. O maior pagamento que recebo é o que satisfaz o meu coração: compartilhar conhecimentos e tentar amenizar um pouco a pobreza e a crise hídrica, e aumentar os alimentos na mesa das famílias brasileiras", diz. Outro estímulo para continuar é que, a cada nova comunidade que recebe as tecnologias sociais, o projeto se oxigena, ganha mais vida.
Projeto Barraginhas
A grande alavanca do Projeto Barraginhas foi encontrar, naturalmente, patrocinadores e parceiros confiáveis e o reforço, em 2003, do pesquisador Paulo Eduardo de Aquino Ribeiro, que complementou as habilidades de Luciano Cordoval, dando mais equilíbrio ao projeto. "Foi a união entre a razão e a emoção, a academia e o campo", afirma Luciano.
O projeto recebeu dez prêmios, dos quais Luciano destaca: em 2003, o Grande Prêmio Super Ecologia, da revista Superinteressante; em 2005, o prêmio Fundação Banco do Brasil/ Petrobras, o prêmio Furnas Ouro Azul, e o prêmio ODM Brasil das Nações Unidas; em 2006, o prêmio da Finep de Inovação Social.
Com essas conquistas, a Fundação Banco do Brasil patrocinou a introdução do projeto no Piauí e no Ceará, de 2005 a 2008. E, desde 2007, a Petrobras vem patrocinando a disseminação das tecnologias sociais no Vale do São Francisco e no Semiárido brasileiro.
Esses dois patrocínios possibilitaram a criação de centenas de vitrines demonstrativas regionais e a formação de gestores regionais e locais. Os gestores locais, na maioria voluntários nas comunidades em que atuam, se tornam multiplicadores. O projeto Disseminação das Tecnologias Sociais: Lago de Múltiplo Uso e Barraginhas foi iniciado em 2007 e está em sua terceira fase. Conta com a coordenação técnica da Embrapa Milho e Sorgo, a gestão da Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (Faped) e o patrocínio da Petrobras. São parceiras as prefeituras, empresas de extensão rural, ONGs, sindicatos de trabalhadores rurais e patronais, igrejas, instituições de ensino e outras Unidades da Embrapa.
O projeto desenvolve ações de treinamento e implantação de barraginhas, lagos de múltiplo uso, fossas sépticas biodigestoras, kits irriga-horta e miniestufas, em comunidades com predominância de agricultores familiares. Apenas em 2015, foram consolidadas 25 parcerias com ações concretas em andamento.

Notícia publicada na edição 192 da Folha da Embrapa
Sandra Maria Brito (MG 06230 JP)
Embrapa Milho e Sorgo

Telefone: (31) 3027-1223
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Parabéns ao amigo Cordoval. Que continue com essa energia por muito tempo !
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Postado em 02/09/16 14:34.