Plantando água no Semiárido: homenagem ao sonho que virou realidade
Clic na foto
Imagem:Cláudio Melo
Cordoval recebe prêmio Frederico Menezes Veiga das mãos do ministro Blairo Maggi
“Por onde chegam as barraginhas, que captam as enxurradas das chuvas, voltam os mananciais, voltam os brejos, voltam as lavouras, as pastagens são revitalizadas, voltam os pomares, as frutas, o mel, os pássaros, os sabiás e as juritis, os animais, os veados, as pacas, os tatus e as cotias, voltam a flora e a fauna, a sustentabilidade, voltam a esperança e a dignidade, volta comida à mesa do sertanejo brasileiro.”
Em discurso emocionado, o engenheiro agrônomo
Luciano Cordoval, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), recebeu nesta quinta-feira (27) o Prêmio Frederico de Menezes Veiga – Categoria Homenagem Especial, na solenidade comemorativa ao 44º aniversário da Embrapa.
O analista resgatou a história do projeto "Disseminação das Tecnologias Sociais: Lago de Múltiplo Uso e
Barraginhas". Tudo começou em 1982, em Janaúba (MG), quando Cordoval observou uma barraginha formada naturalmente. Um ano depois, já na Embrapa, ele iniciou um processo de adaptação da ideia, que levou uma década.
Segundo ele, conspiram para o sucesso do projeto a crise hídrica, a degradação dos solos, as mudanças climáticas e a descapitalização das famílias.
O agrônomo agradeceu aos colegas da Embrapa, especialmente o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo e Paulo Eduardo Ribeiro, autor do livro Barraginhas: Plantando Água, junto com ele e também a autora e fotógrafa Mercedes Lorenzo e ao ex-ministro Alysson Paolinelli, o professor que o ensinou a “plantar água”. Também lembrou pessoas importantes para a publicação do livro recentemente lançado “Barraginhas plantando água”, como o presidente da Embrapa, Maurício Lopes. Cordoval lembrou que Lopes, quando chefe-adjunto de P&D da Embrapa Milho e Sorgo, foi o primeiro a incentivá-lo.
![]()
Tinha tudo para ser uma cerimônia curta, simples e protocolar. Falta de recursos, momento político conturbado do país, eram vários os fatores que levavam a pensar que teríamos uma solenidade de aniversário rápida e comedida. Singela ela realmente foi, como bem caracterizou o presidente Maurício Lopes logo no começo do seu discurso. Mas não faltou emoção permeando as falas de homenageados e não faltou presença de autoridades representativas dos três Poderes no auditório da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) na manhã desta quinta-feira (27), em Brasília. E não faltou público, pois o auditório ficou completamente lotado, com mais de 250 pessoas, muitas em pé durante todo o evento. Fatores que reforçaram o prestígio do 44º aniversário da Embrapa.
Na solenidade, foram homenageados o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e o analista da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) Luciano Cordoval, criador do projeto Barraginhas, que fez um discurso emocionado e repleto de metáforas (
leia aqui).
Por sinal, muitas frases dos homenageados tiveram efeito imediato no orgulho embrapiano. Maggi desabafou que a homenagem era uma das mais importantes que recebera na sua passagem pelo Ministério da Agricultura. "Por uma razão bastante simples, que todos nós conhecemos: ela vem da grande parceira da agricultura e da pecuária no Brasil. A Embrapa é o melhor cartão de visitas que esse país tem para se apresentar ao mundo. Por que é assim? Porque as pessoas de lá olham para a história da nossa agropecuária e vocês são os atores protagonistas desse feito, de sair do zero e chegar aonde chegamos”.
Rollemberg também não poupou elogios. "Todas as vezes que venho à Embrapa sinto uma energia poderosa, uma força grande. A Embrapa é uma das maiores demonstrações da capacidade de realização do povo brasileiro. Essa instituição é um orgulho para nós que amamos esse País. É um exemplo de que quando se une pessoas com compromisso, espírito público, inspiradas e com vontade política muita coisa pode acontecer para o bem do Brasil".
O governador iniciou as comemorações do aniversário fazendo uma
visita ao Banco Genético da Embrapa, localizado dentro das instalações da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. "Se o Brasil conseguiu consolidar um arcabouço legal, moderno, competitivo, para o desenvolvimento da sua genética vegetal, foi porque fez um sólido investimento de base, muito bem representado aqui pelo acervo deste banco", explicou Maurício Lopes.
Em discurso emocionado, o engenheiro agrônomo
Luciano Cordoval, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), recebeu nesta quinta-feira (27) o Prêmio Frederico de Menezes Veiga – Categoria Homenagem Especial, na solenidade comemorativa ao 44º aniversário da Embrapa.
O analista resgatou a história do projeto "Disseminação das Tecnologias Sociais: Lago de Múltiplo Uso e
Barraginhas". Tudo começou em 1982, em Janaúba (MG), quando Cordoval observou uma barraginha formada naturalmente. Um ano depois, já na Embrapa, ele iniciou um processo de adaptação da ideia, que levou uma década.
Segundo ele, conspiram para o sucesso do projeto a crise hídrica, a degradação dos solos, as mudanças climáticas e a descapitalização das famílias.
O agrônomo agradeceu aos colegas da Embrapa, especialmente o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Paulo Eduardo Ribeiro e ao ex-ministro Alysson Paolinelli, o professor que o ensinou a “plantar água”. Também lembrou pessoas importantes para a publicação do livro recentemente lançado “Barraginhas plantando água”, como o presidente da Embrapa, Maurício Lopes. Cordoval lembrou que Lopes, quando chefe-adjunto de P&D da Embrapa Milho e Sorgo, foi o primeiro a incentivá-lo.
O homenageadoLuciano Cordoval Barros ingressou na Embrapa em 1983. É engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura de Lavras, hoje Universidade Federal de Lavras-UFLA (1973). Especializou-se em Manejo de Irrigação no Centro de Capacitación en Irrigación y Drenaje Benito Juárez, no México (1974), e em Irrigação e Drenagem no Centro de Treinamento do Kibutz Mashav Shefayim, em Israel (1976).
Desde o início da sua carreira busca desenvolver e colocar em prática soluções para amenizar os problemas do Semiárido. Tem dedicado a sua vida para tentar diminuir a pobreza, a crise hídrica e colocar alimento na mesa das famílias. Sua satisfação está em compartilhar conhecimentos e tecnologias sociais para melhorar a vida de comunidades carentes. Há oito anos criou o blog “Projeto Barraginhas” onde relata inúmeras histórias sobre construção de barraginhas em diversos municípios dando ênfase às reações da comunidade beneficiada com o Projeto.A tecnologia das Barraginhas surgiu da observação de um barramento natural ocorrido após uma forte chuva no início da década de 1980. Durante uma estiagem que durava mais de dez meses no Semiárido norte-mineiro, ocorreu um temporal rápido que derramou 40 mm de chuvas intensas provocando muita enxurrada. Ao passear a cavalo por uma fazenda após essa tempestade, Luciano se deparou com um lugar que lhe chamou a atenção. “Parecia um minioásis no formato de um lago. Estava verde, com uma relva densa. Nas outras áreas, a chuva não tinha sido suficiente para estimular a brotação das pastagens, estava tudo ainda aparentemente desertificado”, conta.
O agrônomo observou o fenômeno e percebeu que a água da chuva, por estar sobre um terreno frágil, propenso à erosão, abriu uma fissura, escavando e carreando terra, que se depositou mais abaixo, formando um barramento natural. “Essa lama depositada foi suficiente para parar a enxurrada e encher uma bacia rasa. Creio que se infiltrou logo, e as sementes misturadas na lama germinaram, formando esse tapete verde, com o formato do lago criado”, relembra.
A imagem o remeteu a lembranças de uma viagem a Israel, que ele havia feito anos antes. No deserto de Neguev, naquele país, o engenheiro agrônomo encontrou pequenos vales escavados que os agricultores faziam à espera das chuvas. A lama formada pela infiltração da água serve de substrato para espécies como o eucalipto. “À medida que o local vai secando, as raízes vão se aprofundando em busca da umidade e mantêm a planta até as próximas chuvas”, conta Cordoval. As experiências em Minas Gerais e no Oriente Médio inspiraram o agrônomo a rascunhar a tecnologia que seria mais tarde conhecida como barraginha.
O projeto BarraginhasAs Barraginhas vêm transformando para melhor propriedades agrícolas. O Sistema é uma tecnologia simples e barata. Consiste em bacias de captação de água de chuva, distribuídas em propriedades, capazes de evitar erosões, voçorocas e assoreamentos, amenizar enchentes e reabastecer o lençol freático. A recarga do lençol freático, por sua vez, abastece os mananciais, permitindo a revitalização de córregos, a elevação do nível de cisternas e a maior umidade do solo. O Sistema acaba por devolver nutrientes aos solos, tornando-os próprios para o plantio.
Ao provocar a acumulação da água da chuva, a barraginha umedece o terreno em seu entorno, uma característica observada pelo agrônomo Luciano Cordoval ao trazer a tecnologia ao clima tropical. O sistema já foi adaptado para o Semiárido e Cerrado brasileiros.
No Cerrado, o objetivo principal é controlar a erosão causada pelas enxurradas. Como efeitos colaterais, temos o umedecimento das baixadas, que favorece as lavouras, e a revitalização dos cursos d’água a partir da recarga do lençol freático. Já no Semiárido, o mais importante é coletar a chuva, que é de regime irregular, aproveitando os momentos de precipitação intensa. Sem a captação, a água escoa com muita facilidade em solos rasos, de acordo com o especialista. Ele explica que o Semiárido espalha a umidade, o que favorece a agricultura.
Ao longo dos anos, os efeitos benéficos das barraginhas foram percebidos em diversas comunidades. Os produtores participam do projeto, indicando os locais onde correm as enxurradas e aprendendo a construir as pequenas bacias de captação.
Lençóis mais próximos, lagos de múltiplo uso e a integração com as barraginhasAqueles que utilizam cisternas, ou cacimbões, começaram a perceber a elevação do nível da água. Cordoval explica que a infiltração das chuvas no terreno proporciona a elevação do lençol freático, o que pode ser percebido nas cisternas. Com a maior disponibilidade de água, surgiu a possibilidade de fazer a integração das barraginhas com outra tecnologia social, os lagos de múltiplo uso.
Diferentemente das barraginhas, que fazem a infiltração da água no solo, os pequenos lagos são impermeabilizados com o uso de uma lona de plástico, coberta por uma camada de terra. Eles são utilizados como reservatórios para irrigar hortas e também como criatórios de peixes. Abastecidos pelas águas que aumentam nas cisternas, os lagos também podem receber chuvas captadas nos telhados. Essa integração de tecnologias tem transformado a vida de muitos produtores que sonhavam em poder pescar em suas propriedades, mas não imaginavam que isso seria possível.
Vencedor do prêmio Fundação Banco do Brasil em 2005 na categoria recursos hídricos, o projeto Integração das Tecnologias Sociais Lago de Múltiplo Uso e Barraginhas espalhou-se pelo País com o apoio de associações, prefeituras e da estatal brasileira de petróleo, a Petrobras. Mais de 150 mil barraginhas já foram instaladas e estão espalhadas no Distrito Federal e em 13 estados: Minas Gerais, Piauí, Ceará, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Espírito Santo, Sergipe, Bahia e Pará. Além disso, a divulgação da tecnologia já estimulou a implantação de outras milhares de pequenas barragens por todo o País.
Marina Torres (MG 08577)
Embrapa Milho e Sorgo
Telefone: (31) 3027-1272
Larissa Morais Secretaria de Comunicaçãolarissa.morais@embrapa.brLivro lançado em 25 de março de 2017 em Sete Lagoas.